quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Algumas Declarações!

"Em meio ao frio,
a chuva, as dores
de crescer
Eu procuro o seu calor
para o meu sono rebelde.

Perguntei como um adolescente
lembra-se daquela época?
se eu seria sozinho para sempre.
Com olhos preciosos
você me fitou e disse não.

Sempre serei humilde
perante o mistério
da sua raça alienígena.
por seu olhar hipnótico ou
pelos rumores a respeito.

Eu sempre te amarei
quer você exista
ou esteja em outra
pele picante ou doce
na beira da minha cama."
- por jamh at iranian.com

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Companheiro d'Alma

Irei eu um dia, ter um poema? (-:
"Shams de Tabriz era
a alma gêmea de Rumi
E Golestan
[a de] Forough.
Rumi e Forough ambos
Tornaram seus amores em poesia
Eterna poesia!

Shams tornou-se deus para Rumi (meu Deus, minha Shams)
E Golestan um 'renascimento' para Forough (minha existência, tudo, é um verso escuro..)

A partida repentina de ambas
Fez do seus companheiros de alma
O eterno escritor e o eterno sofredor!

Irei eu um dia
ter um poema?"
- Companheiro d'Alma (Soul Mate) by Mahvash Shahegh
retirado do iranian.com

As Fadas

Amigos, agora a pouco traduzi (a partir de uma versão do inglês) o poema 'As Fadas' de Ahmad Shamloo. É um belo poema, algo como uma história. Ele é lindamente interpretado e cantado por um artista iraniano que descobri faz poucos dias chamado Soheil Nafisi. Faz 20 anos que o Sr. Nafisi se dedica a musicar e interpretar a poesia moderna iraniana e, permita-me dizer, QUE ARTISTA MAGNÍFICO! Os arranjos são sublimes e a voz dele.. bom, quem me dera ter essa voz, essa afinação! Aqui está o link para ouvir ele cantando esse poema.

Recomendo a leitura acompanhada da canção, ele de maneira muito bonita pontua bem o espírito de cada momento do poema.

Na versão em inglês é utilizado o termo 'monstros', ao traduzir me esforço sempre em ser fiel às expressões que o poeta utilizou, nesse caso fugi um pouco da literalidade e traduzi 'monstros' como 'desalmados' pois foi esse o sentido lírico que percebi. Não sei, acredito que ficou bem adequado ao português. Como essa versão que estou publicando é muito recente e não foi amadurecida ainda talvez no futuro utilize algum sinônimo que harmonize melhor.

Bom, dito isso, o poema! Aprecie! (-;
"Em um tempo muito longe
Sob um céu de uma região distante
inteiramente limpo, assim como o dia havia sido,

Três fadas sentaram-se, sozinhas
Seus cabelos negros como piche, tão longos como um laço
Mais negro que piche
Mais longo que um laço.

Amargas, amargamente choraram as Fadas
Como nuvens da primavera as Fadas choraram

Do horizonte distante veio
um ding-ding, som de correntes
Da torre atrás delas veio
o som constante de dores noturnas.

As fadas nada disseram
Amargas, amargamente choraram as Fadas
Como nuvens da primavera as Fadas choraram

'Oh amada, querida e doces Fadas
Porque esse lamento tão amargo?
Aqui neste deserto tão distante
Agora que o por-do-sol está tão perto
Vocês não estão assustadas que pode nevar?
Vocês não estão assustadas que pode chover?

Vocês três não tem medo?
Não querem vir para minha cidade comigo?
Daqui vocês podem ouvir o som de nossa cidade
vocês podem ouvir o som de suas correntes..

Esta noite a cidade estará toda iluminada
A casa dos desalmados estará toda dividida,
Para a cidade os aldeões como convidados irão vir
para o bate, bate, bate dos tambores festivos,
Com tambores e tamborins eles irão tocar,
E irão dançar e fazer danças em trajes alegres,

Eles irão rir e sorrir de orelha-a-orelha
E vão inundar o deserto com alegria e brindes

'Heeeey!'
'Huuurraah!'

'A cidade é nossa!'

O povo em festa, os desalmados aborrecidos
O mundo é nosso, os desalmados aborrecidos
A pureza reina, os desalmados contrariados
A escuridão é banida, os desalmados contrariados'

As Fadas nada disseram
Amargas, amargamente choraram as Fadas
Como nuvens da primavera as Fadas choraram

Bem, Fadas de um conto de fadas!
Passarinhos de asa quebrada que sentam e pranteam!
Vocês tem o suficiente para beber e comer
Com chá e água aos seus pés

Quem disse para vocês virem a este nosso mundo?
A esse nosso mundo de pernas pro ar
Nosso mundo não é apenas um conto
Uma mensagem enigmática para decifar,

Nosso mundo é preenchido com muitos espinhos
Serpentes preenchem suas partes desertas
e aqueles de nós que nele nasceram
Sabem disso em seu coração.

Este é o nosso mundo - sim, sim, sim!
Em busca do fogo - oh, oh oh!
Profundamente no coração da feia noite
Fogos de artifício são uma visão bastante bela.

Fogo! Fogo! Tão lindo! Uau!
E agora o sol praticamente já se pôs
Oh, a chegada da noite está tão próxima
O calor da febre já está quase aqui.

Pulando para cima e pulando para baixo
Pulando numa piscina prateada." - Ahmad shamloo

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nunca vi

"Nunca vi dois pinheiros rivais.
Nunca vi um salgueiro
Vender a sua sombra para a terra.
Um carvalho oferece alegremente
Seus galhos para o corvo.
Onde quer que haja uma folha,
em mim, floresce a paixão."
- Sohrab Sepehri (1928-1980)

Venha, quem quer que seja

"Venha, quem quer que seja.
Infiel, idólatra, adorador do fogo, venha.
Nosso caminho não é o do desespero.
Mesmo que tenha quebrado seus votos
uma centena de vezes, venha. Venha novamente."
- Rumi (1207-1273)

Em você, sem você

"Venha, varra a câmara do seu coração,
prepare-a para ser o lar do Amado.
Somente quando seu amor egoísta tiver ido embora
o Amado entrará.

Em você, sem você,
Ele apresentará suas maravilhas para todos verem."
- Mahmud Shabistari (1288-1340)

Poemas breves geralmente são assim, explosivos e muito significativos. Tenho a impressão que o ato de concentrar em poucas palavras o que poderia ser expresso em muitas e muitas linhas produz esse 'big bang', essa explosão de significação poética.

A verdadeira humildade de sentimentos é perceptível no trecho [o Amado entrará] 'Em você, sem você'. Normalmente para receber uma visita ilustre (um padre, uma autoridade, alguém influente, etc) preparamos a casa tendo em vista estar junto ao visitante para desfrutrar da companhia e de bons momentos. No entanto o Sr. Mahmud mostra que quando se tratando Do Amado (Deus) o sentimento genuíno é ainda mais reverencioso e pleno de humildade. Como um servo, prepara tudo com perfeição para que O Amado venha e desfrute do banquete que lhe é oferecido, mas respeitosamente se retira (algo como o 'não sou digno que entreis em minha morada' bíblico). Preparar algo para o próprio deleite é algo humano. Preparar algo para o deleite exclusivamente de outro é superior, é divino.

'Em você, sem você' também revela o processo de morte, transformação e renascimento. Na medida em que me liberto do meu amor egoísta, deixo de ser eu mesmo e passo a ser algo diferente. Morte e renascimento simultâneo. Existe uma esperança para que pelo menos este eu esteja presente para dar as boas vindas Ao Amado e serví-Lo diretamente.

Iniciando

Tenho afinidade com a cultura iraniana (e árabe de um modo geral), um dos meus divertimentos nas horas vagas é traduzir para o português poemas de autores iranianos e árabes, é um exercício interessante que possibilita uma intimidade e um contato muito mais profundo com o lirismo dos autores. Assim, estou criando este blog para reunir num lugar próprio essas pérolas que tenho tido a permissão de encontrar.

Gosto especialmente da cultura iraniana/persa. Trata-se de um país com uma cultura riquíssima e muito elaborada mas que muitas vezes fica oculta ao olhar desatento devido ao grosso véu autoritário/fundamentalista que existe lá.

Finalizando essa brevíssima e sumária introdução faço votos para que possa ter bons momentos por aqui. Sinta-se bem vindo!